sexta-feira, 2 de outubro de 2009

IBGE revela retrato do Brasil agrário.

No último dia 30, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE divulgou dados do Censo Agropecuário de 2006, a coleta foi realizada entre os meses de fevereiro a outubro de 2007 e teve como referência a situação encontrada em 31/12/2006. Entre as principais conclusões, os resultados do Censo Agropecuário 2006 mostram que a estrutura agrária brasileira, caracterizada pela concentração de terras em grandes propriedades rurais não se alterou nos últimos vinte anos.Veja as principais conclusões do Censo:

Área e ocupação dos estabelecimentos rurais.
Em 2006, haviam 5.175.489 estabelecimentos agropecuários, ocupando 329.941.393 hectares (36,75% do território brasileiro). Em relação ao Censo de 1995, houve uma redução de 23.659.882 hectares na área total dos estabelecimentos agropecuários (-6,69%).

Os estabelecimentos produtores de orgânicos representavam 1,8% (ou 90.425) do total de estabelecimentos agropecuários. Dedicavam-se, principalmente, à criação de animais (41,7%), às lavouras temporárias (33,5%), à lavoura permanente (10,4%), à horticultura/floricultura (9,9%) e à produção florestal (3,8%).

Principais atividades.
Em 2006, a atividade principal dos estabelecimentos agropecuários era a criação de bovinos (mais de 30%). Seguida do cultivo de outras lavouras temporárias, ncluindo feijão e mandioca, (cerca de 18% dos estabelecimentos); o cultivo de cereais (12%) e a criação de aves (9%). Os estabelecimentos que têm como atividade principal a cana-de-açúcar ficaram com a maior participação no valor da produção agropecuária (14%).

Diminuição das áreas florestais e pastagens naturais; aumento das pastagens plantadas.
Houve uma redução de 12,1 milhões de hectares (-11%) nas áreas com matas e florestas contidas em estabelecimentos agropecuários, assim distribuídos: Norte (-6,8 milhões de ha), Nordeste (-2,5 milhões de ha); Sudeste (-331 mil ha); e Centro-Oeste (-3,2 milhões de ha). Também houve diminuição de 20,7 milhões de hectares (26,6%) nas áreas de pastagens naturais. Norte (-3,7 milhões de ha), Nordeste (-3,9 milhões), Sudeste (-6,4 milhões), Sul  (-2,8 milhões) e o Centro-Oeste (-3,7 milhões de hectares).

Houve um pequeno aumento, de 1,7 milhão de hectares (1,8%), da área total de pastagens plantadas, porém ele não se deu por igual. A área cresceu 5,8 milhões de hectares (39,7%) na região Norte. Na região Nordeste, 2,4 milhões de hectares (20,1%). Nas demais regiões, entretanto, verificou-se redução.


Aumento da lavoura.
Em relação às áreas de lavouras, observou-se aumento em todas as regiões, com ganho total de 9,7 milhões de hectares (19,4%). Norte (+1,1 milhão de ha, 37,3%), Nordeste (+725 mil ha, 5%), Sudeste (+1,5 milhão de ha, cerca de 13%), Sul (+1,5 milhão de ha,11,9%), o Centro-Oeste registrou o maior aumento de áreas destinadas a lavouras: 4,7 milhões de hectares (63,9%), e todos os estados tiveram crescimentos importantes: MS, 681 mil hectares (45,4%); MT, 2,87 milhões de hectares (83,5%); GO, com 1,1 milhão de hectares (48,3%); e Distrito Federal, com aumento de 26 mil hectares (37,1%).

Grau de escolaridade dos proprietários.


Orientação técnica.
A orientação técnica continua muito limitada, sendo praticada em 22% dos estabelecimentos, que ocupam 46% das terras. A orientação técnica de origem governamental atinge 43% dos estabelecimentos assistidos e está mais voltada para os estabelecimentos menores. Em toda a região Norte e Nordeste, houve avanço em relação à orientação técnica de origem governamental, o mesmo ocorrendo em MG, MS MT e Distrito Federal. Contrariamente ao ocorrido nestes estados, houve significativa redução de produtores que declararam receber orientação técnica nos estados do RJ, SP, PR, SC e GO, o que pode ser uma sinalização de declínio nos serviços de Extensão rural nestes Estados.

Valor da produção.
Os estabelecimentos pesquisados obtiveram um Valor da Produção Total de R$ 147,26 bilhões, dos quais 77,07% (R$ 113,49 bilhões) oriundos da Produção Vegetal, e deste, 64,61% (R$ 73,32 bilhões) foram obtidos pelas culturas de Lavoura Temporária, 22,25% pelas de Lavoura Permanente, 7,55% pela Silvicultura, 3,85% pela Horticultura, 1,18% pela Extração Vegetal e 0,56% pela Floricultura.

Já o valor na Produção Animal ficou concentrada nas atividades ligadas aos Animais de Grande Porte, responsável por 44,71% (R$ 13,64 bilhões) da Produção Animal Total. Seguida da produção de Aves, com 34,56% (R$ 10,54 bilhões). Os animais de médio porte e os pequenos animais obtiveram 17,01% e 3,72%, respectivamente.

Em 2006, a receita somou R$ 122,63 bilhões. Os pequenos (área inferior a 100 hectares) geraram 47,13% deste total (R$ 57,79 bilhões), acima dos 25,49% (R$ 31,25 bilhões) dos médios e 26,62% dos Grandes (R$ 32,64 bilhões).

Dos produtores recenseados, 2.044.976 declararam ter receita externa às atividades do estabelecimento. Deles, 47,73% receberam recursos de aposentadorias e pensões, 34,91% receitas provenientes de programas especiais do Governo e 31,66% salários obtidos em atividade fora do estabelecimento. Dos que receberam receita oriunda de programas especiais do Governo, 74,79% são produtores cujos estabelecimentos se localizam no Nordeste. Nesta região também viviam 50,49% (492 mil) dos que declararam ter tido receitas oriundas de Aposentadorias ou Pensões. Eles captaram 45,27% dos recursos (R$ 2,62 bilhões).

Produção agrícola.
No período 1995/2006, a soja apresentou um aumento de 88,8% na produção, alcançando 40,7 milhões de toneladas, em 15,6 milhões de hectares, com um aumento de 69,3% na área colhida. A cultura da soja, principal produto agrícola na pauta das exportações, gerou R$ 17,1 bilhões para a economia brasileira.  O MT foi o maior produtor nacional de soja (10,7 milhões de toneladas, 26,2% da produção brasileira) em 2006. 46,4% dos estabelecimentos agropecuários que cultivaram soja em 2006 utilizaram sementes geneticamente modificadas.

O algodão herbáceo foi o produto que apresentou o maior aumento relativo de produção (188,6%). O avanço tecnológico propiciou um acréscimo de 124,0% no rendimento médio das lavouras, e o MT passou a ser o principal produtor nacional, com mais de 1,2 milhões de hectares (52,4% da produção nacional).

Em 2006, o milho foi cultivado em cerca de 2,0 milhões de estabelecimentos que produziram 42,3 milhões de toneladas em 11,7 milhões de hectares, alcançando R$ 11,4 bilhões. Na última década,  a cultura teve grandes incrementos de produtividade (47,7%), bem superior à soja (11,5%). O aumento da produtividade, juntamente com o aumento de 12,2% na área colhida, proporcionou um crescimento de 65,7% na produção nacional de milho.

Em 2006, o arroz foi cultivado em 396.628 estabelecimentos, que produziram 9,4 milhões de toneladas, um recorde nacional à época, gerando R$ 4,0 bilhões. Foram colhidos 2.409.587 hectares, sendo que destes, apenas 8,9% foram irrigados, porém sendo responsáveis por 71,2% da produção nacional. O crescimento da produtividade que a lavoura conseguiu na última década foi de 44,6%, compensando a redução da área colhida com a cultura, que foi de 18,8%. Em 91,7% dos estabelecimentos, a colheita foi realizada de forma manual.

A tecnologia dos motores bicombustíveis contribuiu para um crescimento de 47,9% na produção de cana-de-açúcar no período de 1995 a 2006, atingindo R$ 19,6 bilhões em 2006, o maior valor alcançado por uma cultura.

Entre os produtos em destaque, apenas a mandioca não apresentou ganhos de produtividade em relação ao Censo Agropecuário de 1995 (-20,4%), porém sua produção aumentou 76,9%, em função do aumento da área colhida.

Já o cacau e a laranja foram os produtos que apresentaram redução na produção de 17,7% e 25,2%, respectivamente. A principal causa foi a redução nas áreas, que encolheram 24,1% e 37,0%, respectivamente.

Produção pecuária.
O rebanho bovino brasileiro era de 171,6 milhões de cabeças em 31.12.2006; um crescimento de 12,1% em relação ao Censo Agropecuário de 1996. O maior rebanho bovino encontrava-se em MS (20,4 milhões de cabeças), seguido por MG (19,9 milhões) e MT (19,8 milhões). O Pará foi o estado que apresentou o maior crescimento relativo do rebanho bovino no período 1996-2006 (119,6%), e o Rio Grande do Sul a maior redução (-15,4%). Os maiores aumentos dos efetivos bovinos entre os censos foram nas Regiões Norte (81,4%) e Centro-Oeste (13,3%).

A produção de leite ultrapassou os 20 bilhões de litros em 2006, sendo 12,4% superior à produção obtida no censo 1995/96. Houve redução no total de vacas ordenhadas, o que significa um aumento de produtividade da pecuária leiteira em 22,1%, de 1.307 l/vaca/ano em 1995/96 para 1.596 l/vaca/ano em 2006.  Minas Gerais foi o maior produtor nacional de leite, com 27,9% da produção total.

O efetivo nacional de suínos cresceu 14,9% em relação ao Censo de 1996. Em 1996, o Brasil exportou 4,5% da produção de carcaça suína, e 21,1% em 2006.

Em dez anos, o efetivo de aves (galinhas, galos, frangos, frangas e pintos) dobrou de tamanho, ultrapassando a marca do bilhão de animais alojados na data de referência (31.12.2006). A produção de ovos de galinha cresceu mais de um bilhão de dúzias em relação ao último censo, atingindo 2,83 bilhões de dúzias.

Força de trabalho.
Em 31.12.2006, segundo o Censo Agropecuário 2006, havia 16.567.544 pessoas ocupadas nos estabelecimentos agropecuários (incluindo produtores, seus familiares e empregados temporários ou permanentes), que correspondiam a 18,9% da população ocupada no país, (87.628.961 pessoas, segundo a PNAD 2006). Daquele total, 30,5% eram de mulheres.

Excluindo-se as pessoas que não foram contratadas diretamente pelo produtor (como no caso das empreiteiras), o Censo Agropecuário de 2006 encontrou 11.846.503 pessoas que trabalharam de modo temporário, até 180 dias no ano, sendo 3.844.459 com laço de parentesco com o produtor. A atividade com mais trabalhadores temporários era a Pecuária e criação de outros animais (5,055 milhões). Produção de lavouras temporárias (4 milhões) e Produção de lavouras permanentes (1,9 milhão) vinham a seguir.

Embora a soma de suas áreas represente apenas 30,31% do total, os pequenos estabelecimentos responderam por 84,36% das pessoas ocupadas em estabelecimentos agropecuários. Mesmo que cada um deles gere poucos postos de trabalho, os pequenos estabelecimentos (área inferior a 200 ha) utilizam 12,6 vezes mais trabalhadores por hectare que os médios (área entre 200 e inferior a 2.000 ha) e 45,6 vezes mais que os grandes estabelecimentos (área superior a 2.000 ha). Produtores e seus parentes representavam 77% (ou 12.801.179) do total de ocupados nos estabelecimentos agropecuários.

Financiamentos.
Dos 5,2 milhões de estabelecimentos agropecuários, 4,3 milhões não obtiveram financiamento em 2006. A falta de necessidade (51,92%), o medo de contrair dívidas (20,65%) e o empecilho da burocracia (8,36%) foram os principais motivos declarados.

Os estabelecimentos pesquisados declararam R$ 20,96 bilhões em investimentos. 26,06% disseram ter investido em Bens Imóveis, 20,06% em Máquinas, implementos ou tratores (ligados à mecanização rural) e 15,19% em terras adquiridas. O segmento que mais investiu foi o dos estabelecimentos pequenos (R$ 7,77 bilhões), seguido pelos grandes (R$ 7,32 bilhões) e médios (R$ 5,85 bilhões). São Paulo foi a Unidade da Federação com mais investimentos, R$ 3,70 bilhões. Por último estava o Amapá, com 650 milhões.

Energia.
Em 2006, mesmo com incremento de 6,5% no número de estabelecimentos (5,17 milhões) em relação a 1996, 68,1% dos estabelecimentos agropecuários (3,52 milhões) atestaram possuir energia elétrica obtida de pelo menos uma modalidade. O maior crescimento de utilização (41,6 pontos percentuais) ocorreu no Nordeste (+1,5 milhão de estabelecimentos rurais, 61,5% do total da região). O Norte (+27,4 %). As unidades que dispõem de energia elétrica no Centro-Oeste são 73,1% do total (+21,2%). Já as Regiões Sudeste e Sul apresentaram incrementos de 20,5 e 10,3 pontos percentuais, culminando em 82,3% e 84% a proporção de uso de energia elétrica nos estabelecimentos agropecuários.

Mecanização.
Em 31 de dezembro de 2006, 530 mil estabelecimentos (10,2% do total) tinham tratores, num total de 820 mil unidades. Em relação a 1995-1996, houve incremento de 20 mil unidades, 2,6%. Do 1,56 milhão de estabelecimentos que declarou utilizar força mecânica, apenas 59,6% usavam força de procedência própria. Do total, 30,9% (484 mil) declararam usar força mecânica de serviço contratado com o operador; 5,3% cedida por terceiros, 6% cedida por governos, 4,7% cedida por empreiteiros, 4,1% de uso comunitário e 3,4% advinda de aluguel.

Irrigação.
Quanto ao uso de irrigação, 6,3% dos estabelecimentos declararam utilizar esta técnica (+39%, em relação ao Censo anterior), apontando um aumento de 1,3 milhão de hectares (42%), com a seguinte distribuição: 24% da área irrigada no método de inundação, 5,7% por sulcos, 18% sob pivô central, 35% em outros métodos de aspersão, 7,3% com métodos localizados e 8,3% com outros métodos ou molhação. Minas Gerais era o estado com maior número de estabelecimentos (48,39 mil) utilizando alguma técnica de irrigação, enquanto o Amapá aparecia em último, com 251 estabelecimentos.

Agrotóxicos.

Os estabelecimentos dirigidos há 10 anos ou mais pelo mesmo produtor (3,16 milhão ou 61,1%) são os que mais utilizam agrotóxicos (922 mil ou 66,1%).

Há também pouca rotação de culturas entre os estabelecimentos (641 mil ou 12,4%),  práticas alternativas, como controle biológico (67 mil ou 1,3%), queima de resíduos agrícolas e de restos de cultura (45 mil ou 0,9%), uso de repelentes, caldas, iscas, etc. (405 mil ou 7,8%), que poderiam gerar redução no uso de agrotóxicos, também são pouco utilizadas.

A maioria dos estabelecimentos onde houve utilização de agrotóxicos não recebeu orientação técnica (785 mil ou 56,3%), e apenas 21,1% (294 mil) a receberam regularmente.

O pulverizador costal, que é o equipamento de aplicação que apresenta maior potencial de exposição aos agrotóxicos, destaca-se também, em relação aos estabelecimentos que utilizam agrotóxicos, correspondendo à maioria deles (973 mil ou 70,7%).

Quanto ao destino das embalagens vazias, embora haja um número ainda considerável de estabelecimentos que deixam-nas no campo (126 mil ou 9,0%), há aquelas que são queimadas ou enterradas em 358 mil estabelecimentos (25,7%). Dos estabelecimentos, 538 mil (38,6%) devolviam as embalagens vazias aos comerciantes, 10,3% de estabelecimentos (143 mil) tinham as embalagens recolhidas pela prefeitura ou órgãos públicos, ou entregue à central de coleta de embalagens; 3,3% (185 mil) depositavam-nas no estabelecimento para serem retiradas.

Cerca de 296 mil estabelecimentos (21,3%) não utilizaram nenhum equipamento de proteção individual (EPI). Estabelecimentos que declararam a utilização de Bota (947.651 ou 67,9%) e chapéu (740.488 ou 53,0%) corresponderam à maioria.

Leia o relatório completo no site do IBGE.

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